quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

De vestido e salto alto, aluno gay do ITA protesta na formatura em S. José

Por Interino
Um formando do curso de engenharia do Instituto de Tecnologia Aeronáutica (ITA) em São José dos Camposx (SP), uma das instituições mais renomadas do país, fez um protesto durante a solenidade de colação de grau no último sábado (17). Talles de Oliveira Faria, de 24 anos, é homossexual e recebeu o diploma trajando roupas femininas estampadas com palavras de protesto. (veja vídeo acima) Ele diz ter sido vítima de homofobia dentro da instituição. O ITA nega que discrimine alunos por sua orientação sexual. (leia mais abaixo)
Talles se formou em engenharia da computação e diz ter sido forçado a deixar a Força Aérea por sua orientação sexual -os alunos optam pela carreira militar ou civil durante o curso no ITA. O jovem tinha escolhido a carreira militar, mas diz que foi obrigado a desistir por ter ‘tom moral e profissional incompatíveis com a ética militar’. O engenheiro foi alvo de uma sindicância em 2015.
Durante a formatura, ele exibiu nos trajes palavras de protesto que chamavam a instituição de machista, elitista e meritocrática.
Ele conta que sua orientação sexual nunca foi segredo para a família e que decidiu expor que é gay ao entrar no ITA. “Acreditava estar em um ambiente acadêmico e, portanto, de diálogo [onde não haveria problemas]”, comentou. Ele relata que a decisão de assumir a sexualidade o afetou durante a permanência na instituição.
Ato contra homofobia
Ele diz que foi forçado a pedir dispensa da carreira militar após ser flagrado em trajes femininos. Segundo Talles, ele teria participado de um ato no dia 18 de maio do ano passado, para celebrar o dia nacional contra a homofobia – a manifestação foi em uma zona militar, dentro das dependência do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), onde fica o ITA.
No dia, ele se vestiu de mulher e participou de uma passeata organizada pelo Agita –grupo que representa o grupo LGBT dentro do instituto. Depois disso, conta que foi alvo de uma sindicância, que terminou com com a dispensa militar.
Por causa da sanção, ele disse que decidiu ir à formatura em trajes femininos. Ao ser chamado para buscar o diploma, ele retirou a beca e exibiu um vestido vermelho, rosto maquiado e salto alto. No vestido, ele trazia as inscrições “Ita – Excelência em: homofobia, machismo, elitismo e falsa meritocracia”. A ação rendeu vídeos e repercutiu na web.
“A minha orientação sexual não me impediu de me formar na melhor instituição do país, ela não me faz diferente de ninguém. Eu saio daqui fortalecido por tudo que eu passei. Sei que fiz o que deveria ter feito e não me omiti da injustiça social”, avaliou.
Punição
Na sindicância aberta para apurar a conduta de Talles no ato contra homofobia, o Comaer ainda o acusou de violência a símbolos religiosos, por compartilhar memes com a figura de Jesus no Facebook. Ao todo, eram cerca de seis apontamentos sobre a conduta, que poderiam expulsá-lo do militarismo e, em consequência, do próprio ITA – ele foi poupado do último.
Talles buscou advogados na época do ocorrido, mas diz que preferiu abrir mão da força militar, com a condição de permanecer no ITA, já que estava no último ano da graduação. Ele entregou um pedido de dispensa ao comando no dia 27 de abril deste ano – ele reafirma que foi obrigado a tomar essa decisão.
“Fui surpreendido ao ser punido por publicações pessoais, sem relação alguma com a instituição. As sanções todas poderiam me expulsar da força militar e, em consequência, do próprio instituto. Para não perder a graduação eu aceitei a segunda orientação, a de pedir minha dispensa por ‘razões pessoais’”, disse.
G1

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