sábado, 4 de fevereiro de 2017

CRÔNICA DE UM ADEUS

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Eles já não estão entre os familiares, constituindo aquele povoado popularmente batizado de Catolezinho. Eram muito conhecidos; seus nomes, principalmente. Há até alguns – e muitos, talvez – que conheciam muito mais os nomes do que até mesmo eles próprios. Como considerável número de pessoas da minha época de "molecote", já me entendi por gente conhecendo ou ouvindo falar do “Restaurante do Teté”. Eu, inclusive, quando percorria o trajeto casa-escola, visualizava pela cinzenta janela de vidro do ônibus escolar aquela plaquinha implantada sobre o tórrido chão que beirava a BR-405, quase nas primeiras braças que dão acesso a cidade de José da Penha. Naquela placa, a direção daquele restaurante, daquele ponto de encontro, daquela morada, daquele lar, daquela família que, no hoje, se encontra esfacelada com a partida repentina daqueles genitores, daquele pai e daquela mãe, os quais, no cá, são dolorosamente lembrados pelas lancinantes lágrimas daquelas duas filhas, Larisa e Lorena, agora órfãos de pais.
Desde o conhecimento do noticiário da tragédia anunciada pelos alto-falantes da dor até o momento em que pude dá o primeiro abraço naquelas duas amigas que choravam, gritavam, anunciavam das mais penosas formas a perda dos pais, eu, além de dividir aquela dor concomitante ao meu gesto de solidariedade junto a alguns amigos e amigas, eu ia refletindo. Ou melhor, eu fui refletindo. Sabe, caro leitor, foram tantas perguntas, tantos questionamentos, mas tantos, que meu coração ficava apertado, como se o ar da esperança e do conforto demorasse vir.
À medida que o tempo passava, a indagação mudava ainda mais o tom daquela escuridão de dor e de dó, de tristeza e comiseração: quem, mas quem aqui na Terra vai trazer o preci(o)so conforto? Quem vai preencher o vazio que paira no coração daquelas filhas? Quem vai poder oferecer e repreender, quem vai dizer o “sim” e o “não”, determinar o certo e o errado? É! Parece que quando paramos para procurar esses agentes para algumas dessas perguntas, a gente sente mais de perto a dor de não ter mais o pai e a mãe.
Quem vai acordar mais cedo para preparar aquele café e, com pouco tempo depois, chamar ao pé da cama, dizendo que já é hora de levantar? Quem vai deixar dormir mais tarde, mesmo sabendo que terá que acordar mais cedo e pedir dormir mais cedo, mesmo sabendo que pode acordar mais tarde? Quem vai ligar, mandar mensagem com o conteúdo do tipo “onde você está”, “já é hora de voltar”, “já tá vindo”?... Quem vai acompanhar o neto/a para ir ao banheiro com medo do escuro, assim como fizera quando elas ainda eram crianças? E o dia das mães? E o dia dos pais? E a data de aniversário de ambos? E aquele bolo familiar quando alguém estava de idade nova?
Onde encontrar e referendar aquela comida deliciosa que tanto serviu a vizinhança, os comerciantes, as famílias circunvizinhas, os famintos caminhoneiros-trabalhadores e os demais que, às vezes até por acaso, rodando pelas longas vias da BR-405, ali pararam para fazer aquela refeição no tão conhecido “Restaurante do Teté”. Oh, dói lembrar que o lugar daquela plaquinha (hoje, renovada pelo cuidado de seu dono que se foi) já não informa a viva acolhida de Cleide e Teté, que, por tantas vezes, acolheu nossa turma de amigos em tantos momentos festivos. Lembro que, justamente depois que toda a clientela saía, a gente chegava. Lorena nunca disse, mas eu acho que toda aquela trabalheira de preparar comida duplicava com a nossa chegada. Ora, naquela partida de Brasil e Alemanha no último Mundial, Cleide deve ter se cansado de tanto servir feijoada e cerveja para nós, amigos, que lá estavam em algazarra. Mas eles sempre muito hospitaleiros. Tempos bons que não voltarão nunca mais! Esses são apenas alguns dos momentos que sintetizam quão era amistosa a relação daquele casal com aqueles que consideram seus, seja familiares e amigos.
A resposta para os tantos “quens” acima indagados talvez seja difícil ou quase impossível de encontrar. Ou eu diria que não? O tempo, caro leitor, só o tempo trará a resposta mais precisa. A comunidade, a cidade, os adjacentes, a fronteira dos estados, os conhecidos e até os não conhecidos se comoveram com essa tragédia. Eu e, certamente você, leitor, devemos estar buscando essas mesmas respostas, essas mesmas atitudes responsivas e inteligíveis a essa dor que atinge em especial aquelas duas filhas. O adeus é a síntese do que se fez no hoje para que o tempo se encarregue de esmiuçar a mudança mais confortável. O tempo é ração que nutre as esguias respostas da vida, mesmo sabendo que o adeus é definitivo e a tristeza irreparável.


(Jocenilton Cesário da Costa – Texto escrito em solidariedade às jovens Larisa Diniz e Lorena Diniz pela perda de seus pais, no último dia 02 de fevereiro)

Um comentário :

  1. Moro em SP mas no meu tempo em que morava no meu Riacho de Santana querido, quando ia visitar meus familiares em José dá Penha por muitas vezes o vi zelando o seu comércio, foi com muita tristeza que soube dessa notícia, mais com muita esperança de que a sua esposa consiguice saí do hospital para os braços dá família, mais o senhor os guardará em seus braços

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