sexta-feira, 9 de junho de 2017

SEM LEITOS, MAIOR EMERGÊNCIA DO ESTADO IMPROVISA UTI E CRIA “FILA DA MORTE”

A falta de leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) levou o maior hospital público de emergência do Rio Grande do Norte –o Walfredo Gurgel, em Natal– a acomodar de forma improvisada em salas de recuperação de cirurgia pacientes que necessitam de tratamento intensivo. Médicos alegam a medida adotada pelo hospital criou uma espécie de “fila da morte” à espera de uma vaga.
Inaugurado em 1971, o hospital Walfredo Gurgel possui 284 leitos e realiza cerca de 600 atendimentos por dia. São 45 leitos de UTI, sendo que dez foram desativados na semana passada, apesar da alta demanda.
Na terça, 6, o governo do Estado decretou estado de calamidade na saúde pública alegando deficit de servidores e falta de medicamentos e insumos em todas as unidades. Os problemas foram causados pela redução da arrecadação e de repasses federais, afirma o Estado.
Segundo relato de servidores que trabalham no Walfredo Gurgel, o hospital possui cinco salas de cirurgia e seis salas de recuperação. Atualmente, quatro salas de recuperação estão funcionando, entretanto atendendo pacientes que necessitam de UTI e estão à espera de uma das vagas disponíveis de UTI. Sem oportunidade de tratamento, muitos pacientes morrem antes de conseguir um leito.
“Esses pacientes necessitam de equipamentos de UTI, como respirador de ventilação mecânica, monitos cardíaco e não há número disponível para atender a demanda”, contou Geraldo Ferreira, presidente do Sinmed-RN (Sindicato dos Médicos do Rio Grande do Norte).
Paciente entubado fora da UTI.
O presidente do Sinmed estima que há hoje entre 20 e 30 pacientes na fila por leitos de UTI no Walfredo Gurgel. “Muitos vão a óbito esperando vaga”, diz.
“Eu passei o meu plantão com as cinco salas ocupadas [na segunda]. No domingo passado, até as 18h30, estava assim também. Nesse horário liberaram uma porque conseguiram vaga. Mas o plantão virou a noite toda com uma sala para todas as cirurgias de emergência”, afirma o enfermeiro Manoel Egídio Júnio, que trabalha no centro cirúrgico do hospital.
“Tem paciente desde o dia 30 entubado e não tem vaga.” O enfermeiro cita salas que abrigam inadequadamente pacientes que estão em ventilação mecânica.
Sem novos leitos
O Sinmed diz que nos últimos dez anos não houne ampliação do número de leitos e que a rede pública sofreu perdas significativas.
“Nos últimos 10 anos não houve ampliação do número de leitos, e a demanda aumentou com o crescimento da população. A situação vem piorando porque a rede conveniada, que atendia o SUS, deixou de prestar atendimento, e o sistema público se concentrou onde tem condições de prestar atendimento”, afirma Ferreira.
Atualmente, o Rio Grande do Norte conta com 322 vagas da UTI. O mínimo deveria ser de 350, segundo o presidente do Cremern (Conselho Regional de medicina), Marcos Lima de Freitas. O número é menor do que o recomendado pela Organização Mundial de Saúde.
Na segunda-feira, a Justiça determinou o bloqueio de R$ 3 milhões para que o Estado aumente o número de leitos de UTI. A decisão foi um dos argumentos citados no decreto de calamidade.
Ferreira diz ainda que todas as emergências do Estado estão superlotadas, com sobrecarga de trabalho e falta de medicamentos e insumos.

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