Milagre é explicado como algo extraordinário,
admirável, espantoso. Acontecimento que chama a atenção, que desperta
interesse, que faz o povo ficar surpreso. Aos 30 anos, Jonas Lopes da Silva é
sinônimo disso. Perseverança, coragem e firmeza foram virtudes que ajudaram a
transformar seu destino. Combustível para que o ex-cortador de cana, egresso da
Zona da Mata pernambucana, estivesse entre os 74 jovens que colaram grau na 95ª
turma de medicina da Universidade de Pernambuco (UPE) no Teatro Guararapes, em
Olinda, no Grande Recife, na noite desta quarta-feira (29).
O reconhecimento pela sua difícil
trajetória até conseguir o tão sonhado diploma foi louvado pelos colegas, que
decidiram homenageá-lo. Aplaudido, Jonas ficou surpreso. Não esperava tamanha
consideração. Tímido, chorou ao ficar de pé, em destaque, entre os demais
(agora) médicos.
“Não existem vidas
comuns. Apesar de termos tantos milagres hoje a contar, a turma 95 escolheu um
desses milagres para receber o grau (de médico) em nome de todos nós. Antes de
ser estudante de medicina ele lutou contra a exploração de mão de obra infantil
nas usinas de cana-de-açúcar no interior de Pernambuco”, discursou a oradora,
Débora Lima, assim que a solenidade começou.
“Nascido em Palmares, criado em
Joaquim Nabuco, foi cortador de cana até os 15 anos. Aos 24, o quinto dos sete
filhos de seu José Lopes e dona Edileusa chega à universidade. Hoje nossa turma
pede que Jonas Lopes da Silva fique de pé para receber nosso aplauso e
reconhecimento”, complementou Débora. O rapaz foi aclamado com muitas palmas.
Para testemunhar esse momento, uma
pequena caravana saiu de Joaquim Nabuco, distante 113 quilômetros de Recife,
antes do sol se pôr: os pais, os seis irmãos, cunhados, alguns primos, tios.
Três carros cheios de gente e de orgulho.
“Não dormi nem comi direito. Meu
coração está acelerado, a mil por hora. Meu filho conseguiu realizar o sonho de
se tornar médico”, comentou dona Edileusa, tão tímida quanto o filho. Ela
precisou levar Jonas para acompanhá-la na cansativa labuta de cortar e limpar
cana, quando ele era criança, pois dali que tirava o sustento para garantir o
feijão com arroz de todos os dias.
Também estava lá Benjamim Gomes,
professor de Jonas no terceiro período do curso médico e que tanto o apoiou em
vários momentos da faculdade. Fernando Beltrão, igualmente professor de
medicina da UPE e de um cursinho onde Jonas ganhou bolsa para se preparar para
o vestibular, foi outro que presenciou a formatura.
A alegria pela conclusão da
graduação médica era a mesma de Márcio Nascimento, 29 anos, colega de turma de
Jonas. Suas histórias se parecem. Ambos moraram na Casa do Estudante de
Pernambuco, no Derby, área central do Recife. Enfrentaram restrição financeira
e saudade dos parentes enquanto cursaram os seis anos da faculdade. Não
desistiram.
“A formatura é o apogeu. Esperei
muito por esse dia. É uma alegria sem tamanho”, destacou Márcio, ao lado da
esposa, Juliane, grávida de seis meses, e do filho Bruno, 8 anos. Os pais,
sogros, irmãos e parentes também saíram de Floresta, no Sertão (a 417 km de
Recife), para participar da colação de grau em Olinda.
“Foi um milagre de Deus eu virar
médico. Ele, minha família e tantas pessoas apostaram em mim e sou muito grato
por isso. Espero ser um bom médico para retribuir”, afirmou Jonas, que agora
tem como desafio passar na residência em clínica médica ou cardiologia.
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JC Online
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