Arysnágilo Waldoniêr Pinheiro Vieira, com apenas 13 anos de idade é um belo e pequeno escritor, que no ano de 2014 representou o Rio Grande do Norte, sendo um dos Semifinalistas da Olimpíada de Língua Portuguesa. Filho do casal, o professor José Arimateia e Eliete Pinheiro domiciliados na vila Major Felipe.
Parabéns Arysnágilo, por descrever e divulgar as bonitas e emocionantes memórias de seu avô, esse grande e admirável homem Gonzaga Abílio.
Título: Mergulho profundo
Hoje aos 86 anos, sentado em baixo de um juazeiro
frondoso, ao lado de minha casa no Arapuá, sítio que me abraçou por toda a
vida, sou arrebatado por uma enxurrada de lembranças. Parece até que o rio que
cortava uma vereda para uma Vila próxima, vem ao meu encontro, como se também
sentisse saudade dos caminhos percorridos durante a nossa história.
Ah! Recordo-me bem dos banhos no rio, das apostas com os irmãos e os colegas,
para ver quem conseguia vencer a correnteza. Tchi bum! Infinitas eram as
acrobacias lá de cima das oiticicas, dos barreiros... Éramos crianças afoitas!
As nossas roupas eram lavadas por minha mãe na água corrente, batidas na pedra,
e quaradas para ficarem bem limpinhas. O rio hoje é apenas um caminho. Chão
castigado pela seca que assola o nosso sertão.
Nossa casa era de taipa, chão batido, e todos os dias minha mãe precisava aguar
para a poeira não nos incomodar. Não demorava muito porque quase não tínhamos
mobília, apenas uma mesa de madeira com seis tamboretes; uma mala que mais
parecia um baú, onde guardávamos nossas roupas feitas com tecido de chita,
mescla, tricolina e volta ao mundo; um pequeno guarda-louça e um fogão a lenha.
A cozinha era um lugar sagrado, onde antes das refeições fazíamos
nossasorações, agradecendo o pão de cada dia. Minha mãe era uma excelente
cozinheira, tínhamos mesmo o que agradecer. O cheiro do café nos tirava da
rede, antes mesmo do sol acordar. Eu fazia questão de moer o milho para
saborear o bolo que minha mãe fazia. Mãos de fada! Não demorava muito e ele
ficava pronto. Eu e meus quatro irmãos, só tínhamos que colocar a lenha no
fogão, acender e soprar bastante. Às vezes eu ficava até tonto, de tanto
soprar.
Meu pai se despediu cedo do sítio, quando eu tinha seis anos de idade. A vida
não foi fácil, sem o líder da família. Por diversas vezes vi minha mãe chorando
pelos cantos da casa, e eu bem sabia que a saudade invadia seu coração. Graças
a Deus, nunca nos faltou trabalho. A agricultura e a criação de gado nos
sustentaram e asseguraram nosso alimento.
Quando o sol estava preste a se esconder, os conhecidos achegados da Vila Major
Felipe, vinham fazer boca de noite em nossa casa, e o nosso terreiro se
transformava em um palco de contação de histórias e causos. Além do espetáculo
no céu, o lampião iluminava a nossa prosa. Chegada a hora de dormir, eu abria a
cancela para os conhecidos irem embora, mamãe apagava a lamparina, nos
abençoava, e assim cada um em sua rede relembrava os acontecimentos do dia e
adormecia sonhando com um novo amanhecer.
Fecho os olhos agora e imagino sentir o vento que nos visitava pelas frestas da
nossa casa, trazendo consigo o cheiro inconfundível do meu lugar. Apenas a
nossa casinha no meio do cenário. Abro os olhos e percebo, sinto que o cheiro
não é mais o mesmo, pois a brisa está quente e arde como brasa. A natureza não
exala mais sua essência, pois sente sede. O poço artesiano construído no
terreiro da minha casa, pelo governo do nosso estado-RN, e o cacimbão que
abastece também as duas únicas casas próximas a minha, não sacia a sede do
nosso chão.
Durante a noite, a lua e as estrelas continuam estampando o céu, mas não
refletem a mesma exuberância, pois as luzes dos postes que nos alcançaram,
ofuscam o brilho e a perfeição do teto do nosso lugar. A TV compete com o
terreiro. As lamparinas e o lampião não se alimentam mais de querosene.
Mergulho nessas lembranças e volto à realidade. Aqui nasci, cresci, casei e
criei meus filhos. Estes voaram e constituíram suas famílias. Mas como uma
andorinha, uma filha, após longos voos, ao ninho retorna. Hoje divido este
recanto com ela e minha esposa.
E o curso da vida continua...
Autor: Arysnágilo Waldoniêr |
domingo, 28 de junho de 2015
Texto Lindo e emocionante feito por Arysnágilo Waldoniêr para o seu Avô Gonzaga Abílio.
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