domingo, 28 de junho de 2015

Texto Lindo e emocionante feito por Arysnágilo Waldoniêr para o seu Avô Gonzaga Abílio.

 Arysnágilo Waldoniêr Pinheiro Vieira, com apenas 13 anos de idade  é um belo e pequeno escritor, que no ano de 2014 representou o Rio Grande do Norte, sendo um dos Semifinalistas da Olimpíada de Língua Portuguesa. Filho do casal, o professor José Arimateia e Eliete Pinheiro domiciliados na vila Major Felipe. 

Parabéns Arysnágilo, por descrever e divulgar as bonitas e emocionantes memórias de seu avô, esse  grande e admirável homem Gonzaga Abílio.

Título: Mergulho profundo

Hoje aos 86 anos, sentado em baixo de um juazeiro frondoso, ao lado de minha casa no Arapuá, sítio que me abraçou por toda a vida, sou arrebatado por uma enxurrada de lembranças. Parece até que o rio que cortava uma vereda para uma Vila próxima, vem ao meu encontro, como se também sentisse saudade dos caminhos percorridos durante a nossa história.

Ah! Recordo-me bem dos banhos no rio, das apostas com os irmãos e os colegas, para ver quem conseguia vencer a correnteza. Tchi bum! Infinitas eram as acrobacias lá de cima das oiticicas, dos barreiros... Éramos crianças afoitas! As nossas roupas eram lavadas por minha mãe na água corrente, batidas na pedra, e quaradas para ficarem bem limpinhas. O rio hoje é apenas um caminho. Chão castigado pela seca que assola o nosso sertão.

Nossa casa era de taipa, chão batido, e todos os dias minha mãe precisava aguar para a poeira não nos incomodar. Não demorava muito porque quase não tínhamos mobília, apenas uma mesa de madeira com seis tamboretes; uma mala que mais parecia um baú, onde guardávamos nossas roupas feitas com tecido de chita, mescla, tricolina e volta ao mundo; um pequeno guarda-louça e um fogão a lenha.

A cozinha era um lugar sagrado, onde antes das refeições fazíamos nossasorações, agradecendo o pão de cada dia. Minha mãe era uma excelente cozinheira, tínhamos mesmo o que agradecer. O cheiro do café nos tirava da rede, antes mesmo do sol acordar. Eu fazia questão de moer o milho para saborear o bolo que minha mãe fazia. Mãos de fada! Não demorava muito e ele ficava pronto. Eu e meus quatro irmãos, só tínhamos que colocar a lenha no fogão, acender e soprar bastante. Às vezes eu ficava até tonto, de tanto soprar.

Meu pai se despediu cedo do sítio, quando eu tinha seis anos de idade. A vida não foi fácil, sem o líder da família. Por diversas vezes vi minha mãe chorando pelos cantos da casa, e eu bem sabia que a saudade invadia seu coração. Graças a Deus, nunca nos faltou trabalho. A agricultura e a criação de gado nos sustentaram e asseguraram nosso alimento.
Quando o sol estava preste a se esconder, os conhecidos achegados da Vila Major Felipe, vinham fazer boca de noite em nossa casa, e o nosso terreiro se transformava em um palco de contação de histórias e causos. Além do espetáculo no céu, o lampião iluminava a nossa prosa. Chegada a hora de dormir, eu abria a cancela para os conhecidos irem embora, mamãe apagava a lamparina, nos abençoava, e assim cada um em sua rede relembrava os acontecimentos do dia e adormecia sonhando com um novo amanhecer.
Fecho os olhos agora e imagino sentir o vento que nos visitava pelas frestas da nossa casa, trazendo consigo o cheiro inconfundível do meu lugar. Apenas a nossa casinha no meio do cenário. Abro os olhos e percebo, sinto que o cheiro não é mais o mesmo, pois a brisa está quente e arde como brasa. A natureza não exala mais sua essência, pois sente sede. O poço artesiano construído no terreiro da minha casa, pelo governo do nosso estado-RN, e o cacimbão que abastece também as duas únicas casas próximas a minha, não sacia a sede do nosso chão.
Durante a noite, a lua e as estrelas continuam estampando o céu, mas não refletem a mesma exuberância, pois as luzes dos postes que nos alcançaram, ofuscam o brilho e a perfeição do teto do nosso lugar. A TV compete com o terreiro. As lamparinas e o lampião não se alimentam mais de querosene.
Mergulho nessas lembranças e volto à realidade. Aqui nasci, cresci, casei e criei meus filhos. Estes voaram e constituíram suas famílias. Mas como uma andorinha, uma filha, após longos voos, ao ninho retorna. Hoje divido este recanto com ela e minha esposa.
E o curso da vida continua...

Autor: Arysnágilo Waldoniêr

Um comentário :

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