quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Aluna do Paraná-RN é semifinalista da Olimpíada de Língua Portuguesa

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A aluna Maria Eva Rocha da Escola 26 de Março da cidade do Paraná- RN, está entre os alunos semifinalista da 5° edição da Olimpíada de Língua de Portuguesa no gênero crônica. A aluna que estuda o primeiro ano do ensino médio, teve o professor Carlos Alves Vieira como orientador. A Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro é um concurso de produção de textos para alunos e professores de escolas públicas brasileiras e acontece em ano pares. Tem como tema “O lugar onde vivo”.
Depois de passarem pela etapa escolar, municipal e estadual, a aluna e o professor participarão das semifinais que aconteceram nos dias 08 a 10 de novembro, em Porto Alegre- RS. Caso passem dessa etapa, eles irão à grande final que acontecerá em Brasília.
Leia a crônica abaixo:
Estrelas do meio-dia.
Maria Eva Rocha da Silva
O dia amanheceu confuso. Os raios solares ainda brigavam com a densa neblina da noite anterior. Uma coisa extraordinária de acontecer em meio a seca que nos assola, até porque, moro no sertão do Rio Grande do Norte.
Minha mente também densa brigava com as luzes do meu pensamento. As ideias insistiam em não clarear. Busco lá fora algo para alumiar minha primeira crônica. Caiçara é uma pequena vila e nada, absolutamente, nada me parece ter pano pra manga capaz de tecer uma boa história. As ruas são sempre vazias, não há movimento de carros, e quase não têm passantes. Nada de notório acontece aos meus olhos. No máximo um bêbado aqui ou ali costuma soltar ecos e ondas tortas de metáforas capaz de quebrar a monotonia da rua.
Eu estava me preparando para ir à lotérica pagar um boleto e, algo diferente acontecia: a fila estava enorme, o que não é de costume. Como o prazo do pagamento do meu boleto era até aquele dia, não tive outra alternativa, senão esperar aquela fila desproporcional. Eu era a última. Enquanto eu esperava, observava, atenciosamente, aquelas mulheres que formavam aquela fileira. Verdadeiras flores campestres! Simples, porém elegantes e cheirosas. Um olor de autoestima pairava no ar…. É, elas tinham vindo receber o bolsa família. Eram mulheres da cidade e de todos os sítios. Todas bem vestidas. Claro, não era trajes de gala, nem de artistas globais, nem de hollywood, todavia, pensar nessas mulheres a um tempo atrás, tão chicoteadas pela mídia e pela miséria que apareciam sujas, desdentadas, suprimidas pela dor e pelo machismo, posso dizer que elas eram verdadeiras estrelas. Elas Tinham algo em comum com Sinhá vitória de Vidas Secas, elas sabiam fazer contas e com certeza, tinham colchões até melhores do que o do seu Tomás da bolandeira. Observei bem uma que saiu contando o dinheiro em voz baixa. Uma outra beirava uns 30 anos, era negra, bonita, usava um vestido estampado, puxou de dentro da bolsa vermelha um batom, que por sinal, era também vermelho. Retocou o batom. Vi sua alma florescer, radiar de esperança por entre aquele espelho. Por um momento, ela olhou para trás e também me observou, sorriu envergonhada e guardou o batom vermelho na bolsa vermelha. Uma outra segurava uma criança que também vestia-se bem, um pequeno príncipe.
Elas esperavam uma a uma, pacientemente, e com uma alegria de quem tinham ganhado na loteria. A fila aos poucos ia diminuindo, eu esqueci até da hora, olhei no meu celular: era pontualmente meio-dia! Foi então que me lembrei da crônica. Uma lâmpada acendeu sobre a minha cabeça! — São essas estrelas, as Estrelas do meio-dia que irão enredar minha primeira crônica. Era a hora delas, não a “Hora da Estrela” de Clarice Lispector, cuja personagem, suja, inócua, sem sal, enganada por uma charlatã e engolida por uma cidade, que de maravilhosa nada teve, empurrando-a para um final trágico. Essas podem até estar sendo enganadas pela bolsa do governo, porém, são maravilhosas. Suas luzes brilhavam, irradiavam a terra escura, fazendo nascer esperança no chão seco do sertão. Talvez, a pobre de Macabea nem tivesse fugido do sertão nos dia de hoje e estivesse brilhando naquela fila.
Chegou minha vez, atrás de mim, algumas pessoas tinham chegado. Paguei a conta e voltei para casa. Um grito de liberdade ecoava nas rua da caiçara ressoando dentro das casas. E eu sentindo-me super feliz, pois encontrei o assunto para minha primeira crônica – As estrelas do meio-dia.

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