Será que o nosso tipo sanguíneo tem alguma influência em relação a severidade ao Covid-19?

Alguns relatos clínicos preliminares sugeriram o envolvimento de grupos sanguíneos ABO na suscetibilidade e severidade ao Covid-19. Esse preprint identificou uma associação com as variantes rs11385942, rs657152 e tipo sanguíneo A com a severidade. O número de pacientes foi adequado, mas com a ressalva de utilização de populações geneticamente bem determinadas. Fizeram uma varredura de variações genéticas do tipo SNP utilizando uma tecnologia bem robusta de análise. No entanto, usar como população controle indivíduos que não tiveram Covid-19 não é o mais adequado, pois pode apenas estar relacionado a não exposição.

A variante rs11385942 no gene LZTFL1 está em uma região intrônica, não existe nenhuma publicação anterior com essa variante, só foi encontrada em bancos de dados de análises genéticas.

O gene ABO codifica a glicosiltransferase que define os grupos sanguíneos. A variante em rs657152 está no íntron 1 mas está relacionado a regulação da expressão do gene. Essa variante já foi discutida algumas publicações cientificas, associadas com doenças cardiovasculares, inflamação, tromboembolismo, regulação dos níveis da enzima conversora de angiotensina e outros. Embora seja um pouco controverso, pois nem todos os estudos encontraram associação positiva, em alguns podemos observar que existe sim uma lógica dos achados fisiopatológicos da Covid-19 com essa variante.

Ponto crítico desse preprint: O tipo sanguíneos A e a variante rs657152 associadas com a severidade me parece contraditório levando em consideração publicações anteriores. Entender a genética da susceptibilidade e severidade da Covid-19 precisa levar em conta que ela segue uma herança do tipo complexa, existe o envolvimento de múltiplos genes (que interagem entre si), o ambiente (alimentação, sol, comorbidades, tuberculose, HIV) e a epigenética (metilação, acetilação) na determinação do fenótipo.

Esses achados precisam ser validados em populações miscigenadas como a nossa, no entanto, acredito que estamos começando a entender melhor essa doença. 

@Niterói, Rio de Janeiro, Brazil

VIA FACEBOOK POR FABRÍCIA LIMA