O Nutrinet Brasil é o maior estudo sobre alimentação e saúde já realizado no Brasil. Essa pesquisa irá acompanhar, por um período de 10 anos, 200 mil brasileiros de todas as regiões do país. O objetivo é conhecer o padrão alimentar do brasileiro, ou seja, o conjunto de alimentos que a população consome. A partir disso, estabelecer relações entre a alimentação e o risco de desenvolver problemas de saúde como obesidade, diabetes e doenças do coração. Assim, o Nutrinet Brasil poderá identificar os padrões que propiciam melhores condições de saúde.
O estudo foi lançado pelo Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da USP, coordenado pelo professor Carlos Augusto Monteiro, e conta com a participação de outros departamentos desta mesma universidade, além de diversas instituições que estão colaborando com essa empreitada: Unifesp, UFMG, UFRGS, UFPel, Fiocruz do Rio de Janeiro e Bahia e Instituto Nacional do Câncer (Inca). O Nutrinet Brasil também conta com embaixadores voluntários, e eu tenho muito orgulho de estar entre eles.
É só o começo dessa pesquisa, mas já temos dados e artigos publicados com resultados preliminares sobre o peso e a alimentação dos brasileiros durante a pandemia que apresento abaixo. O que mudou na alimentação dos brasileiros durante a pandemia da covid-19?
Até o momento foram publicados dois artigos com dados do estudo Nutrinet Brasil, ambos na Revista de Saúde Pública de São Paulo. Um deles descreve as características da alimentação dos brasileiros antes e após a pandemia, iniciada oficialmente no Brasil em 26 de fevereiro de 2020.
Para isso, foram selecionados mais de 10.000 participantes que responderam a um questionário simplificado sobre os alimentos consumidos no dia anterior. Essas respostas foram fornecidas em dois momentos: ao ingressar na pesquisa (entre 26 de janeiro e 15 de fevereiro de 2020) e após o início da pandemia no Brasil.
O questionário apresenta perguntas sobre o consumo de 10 tipos de frutas, 18 tipos de hortaliças e leguminosas (feijões, grão-de-bico e lentilha), vistos como marcadores de alimentação saudável, além de 23 tipos de alimentos ultraprocessados (refrigerantes, suco de caixa, refresco em pó, salsicha, mortadela etc.), categorizados como marcadores de alimentação menos saudável.
Quanto aos resultados, foi verificado um aumento pequeno, mas estatisticamente significante, no consumo de frutas (de 78,3% para 81,8%), hortaliças (de 87,3% para 89,1%) e leguminosas (de 53,5% para 55,3%). Também foi observado que o consumo de alimentos ultraprocessados praticamente não se modificou com a pandemia. O percentual de pessoas que consumiram no dia anterior pelo menos um alimento ultraprocessado passou de 80% para 80,3%, e entre aqueles que consumiram cinco ou mais alimentos desse tipo caiu de 11% para 10,4%.
Essa estabilidade dos chamados marcadores menos saudáveis foi praticamente a mesma nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste, como também entre os participantes com uma escolaridade intermediária e superior. No entanto, nas regiões Norte e Nordeste e entre as pessoas com menos tempo de escolaridade, foram percebidas mudanças menos favoráveis que, ainda que não significantes do ponto de vista estatístico, preocupam os pesquisadores, pois o padrão alimentar baseado em ultraprocessados pode aumentar o risco de doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes e hipertensão, vistos como fatores de risco para o desenvolvimento da covid-19 em sua forma grave.
O outro artigo do Nutrinet Brasil, publicado já em 2021, apresenta as mudanças de peso corporal do brasileiro durante a pandemia. Neste, os pesquisadores contaram com dados de 14.259 participantes que relataram seu peso antes da pandemia e após 6 meses. Um percentual maior de pessoas (19,7%) relatou ganho de peso. Essa informação esteve associada ao sexo masculino, à menor escolaridade e à presença prévia de excesso de peso. Enquanto isso, 15,2% dos participantes informaram terem perdido peso, o que também se associou com o sexo masculino e excesso de peso. Ou seja, nem todo mundo engordou na pandemia.
Os resultados estão de acordo com outros encontrados na Polônia, França e Espanha. Esses países também mostraram proporções mais altas de pessoas que ganharam peso em relação aos que perderam durante o isolamento social adotado como medida de contenção da covid-19.
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